terça-feira, 26 de julho de 2011

Sobre Raízes


Tenho muitos tios e muitas tias.

Devido à proximidade com a família da minha mãe, conheço a maioria dos meus tios maternos. Um desses tios (um dos últimos que conheci) é o tio Antônio. Ele, hoje, deve ter uns setenta anos de idade ou mais, porém, quando o conheci na minha infância, ele devia ter por volta de cinquenta anos e estava em pleno vigor físico (pelo fato de ter sido militar). Mesmo após mais de vinte anos sem vê-lo, lembro-me da sua voz nitidamente: um vozeirão grave e em um tom alto (característico do pernambucano legítimo!) que fazia qualquer um acreditar que ele estava de mau humor o tempo todo, mas era só aparência. Ele era um barulhento e bem humorado tio.

Em uma de suas vindas ao Rio de Janeiro para nos visitar, meu tio Antônio trouxe um pacote enorme de castanhas e vários pacotes de frutas típicas do nordeste, dentre as quais uma que eu não conhecia, a siriguela.

Era uma frutinha um pouco maior que uma uva e com a aparência de um cajá em miniatura, entretanto o sabor não é parecido com nada que eu já provei antes. Fiquei tão encantado com aquela frutinha tão saborosa que quis plantá-la no quintal em que morávamos. Minha tia gostou da ideia e, no pouco espaço de terra que havia sobrado no terreno, me ajudou a plantar as sementes que eu havia guardado.

Foi grande a minha decepção ao ver, depois de alguns anos, que a árvore da siriguela não tinha ultrapassado um metro de altura. Durante os anos seguintes que ainda morei no mesmo terreno que minha avó e minhas tias, aquela árvore pareceu não crescer nenhum centímetro.

Quando a casa da minha família ficou pronta, nos mudamos para o terreno ao lado e continuei insistindo na ideia de ter um pé de siriguela no quintal. Levei um galho da planta que minha tia tinha me ajudado a plantar e plantei no novo lugar, mais amplo e, acredito, em um solo mais fértil. A diferença foi evidente: A árvore cresceu rapidamente e alcançou a altura do sobrado que havia do lado da minha casa, mas, curiosamente, não deu as frutas que eu tanto esperava.

Quatro anos se passaram e nenhuma fruta nasceu naquela árvore bonita e frondosa. Estávamos a ponto de desistir e cortá-la para dar lugar a uma nova construção quando, surpreendentemente, as siriguelas começaram a crescer. Depois de alguns meses, a produção daquela planta foi tão intensa que me lembro de ter dividido as frutas com as minhas tias que moravam ao lado, com alguns vizinhos, e eu ainda levei algumas para os meus colegas de escola. Saciei a vontade de comer aquelas frutas tão esperadas.

Curiosamente, nossa árvore de siriguela nunca mais frutificou e tivemos que arrancá-la para dar lugar a uma construção.

A Palavra de Deus fala de uma parábola em que o dono de uma propriedade pede a seu empregado que retire uma planta que ocupa a terra inutilmente:

E passou a narrar esta parábola: Certo homem tinha uma figueira plantada na sua vinha; e indo procurar fruto nela, e não o achou. Disse então ao viticultor: Eis que há três anos venho procurar fruto nesta figueira, e não o acho; corta-a; para que ocupa ela ainda a terra inutilmente? Respondeu-lhe ele: Senhor, deixa-a este ano ainda, até que eu cave em derredor, e lhe deite estrume; e se no futuro der fruto, bem; mas, se não, cortá-la-ás.” (Lc 13:6-9).

Na parábola, o empregado se compromete a cavar ao redor da planta e a adubá-la. Duas coisas me chamam a atenção nas atitudes desse empregado: cavar ao redor significa ter as raízes expostas, significa admitir diante de Deus que nosso pecado, aquilo que nos impede de crescer e frutificar, está localizado no lugar mais íntimo do nosso coração. Ter as raízes expostas representa a instabilidade da planta, o limite entre a morte e a possibilidade de restauração das raízes. Quantas vezes rejeitamos o tratamento que o Senhor Jesus nos oferece porque não confiamos que a exposição necessária diante de Deus é o caminho da cura. Nossa mente nos leva a acreditar que a exposição de nossos pecados diante do Pai vai nos causar mais ruína. O inimigo de nossas almas usa dois sentimentos bem conhecidos por nós para nos manter escravos dos pecados guardados em nossas raízes: o orgulho e a soberba.

No momento em temos que decidir entre aceitar o tratamento que o Espírito Santo nos oferece amorosamente ou continuarmos enraizados no pecado, Satanás trabalha nesses dois sentimentos: o orgulho de não querermos parecer fracos diante dos nossos irmãos, diante dos nossos líderes (ou de nossos liderados!) e a soberba de não admitirmos que nosso pecado seja tão destrutivo a ponto de nos tornar infrutíferos. Nessas horas é mais fácil culpar o diabo, a igreja, o pastor e os irmãos do que admitir que nossa infertilidade é culpa dos pecados guardados em nossas raízes.

A outra disposição do empregado que me chama a atenção é a de adubar as raízes. O esterco não é, nem de longe, uma coisa agradável. Seu cheiro incomoda, sua aparência é repugnante, porém não existe nada mais saudável para uma planta doente como o esterco. O Senhor muitas vezes quer nos tratar em nossas raízes, mas ficamos inseguros em aceitar o tratamento porque nos parece desagradável demais, rígido demais, cruel demais. Esquecemos que Ele é o Pai amoroso que nos quer limpos, livres e ao seu lado. Por mais duro que pareça o tratamento, Deus sabe o que é necessário e libertador e também sabe os nossos limites e nossa estrutura.

Quando aceitamos que o Senhor Jesus cave ao nosso redor, deite o nutriente necessário somos restaurados e ficamos prontos a frutificar a trinta, a sessenta e a cem por um. Porém, mais importante que o nosso próprio frutificar é sair enriquecido pela experiência de ter sido cuidado e protegido pelo próprio Deus.

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