sábado, 30 de julho de 2011

Um jumento de ossos fortes


Eu estava no meio de uma aula na quinta série (atual sexto ano) do ensino fundamental quando uma inquietação tomou conta de mim. Eu não me sentia à vontade sentado em minha cadeira e aquela sensação não melhorava quando eu me punha de pé. A hora de ir para casa parecia não chegar. Quando tive de descer as escadas da escola para ir em direção ao ponto de ônibus, pude perceber que meu incômodo era uma dor aguda na coluna. Eu não conseguia me lembrar de nada que tivesse feito na escola que pudesse justificar tamanha dor. Não havia sido dia de educação física e eu também não havia me metido em nenhuma brincadeira que tivesse causado uma queda ou contusão. Sem entender o motivo da dor, fui para casa.

O caminho foi particularmente cruel. A viagem durava quase meia hora, mas, naquele dia, o tempo parecia não se mover (diferentemente do ônibus, que parecia se mover pra cima, pra baixo e para os lados mais do que nos outros dias). Depois que desci do transporte, ainda tive de andar cerca de duzentos metros até minha casa. Em todo esse tempo, a dor aumentava.

Quando cheguei em casa, queixei-me com minha mãe da dor, ela (achando que aquilo era o resultado de mais uma manhã de brincadeiras físicas) me disse para deitar e descansar um pouco que eu melhoraria. De fato, quando me deitei, a dor diminuiu, mas voltava cada vez que eu me levantava ou mesmo ficava sentado. Preocupada, minha mãe me levou na manhã seguinte a um médico.

Após me atender, o médico pediu uma radiografia para ter mais informações. Quando ele nos chamou novamente para informar o resultado do exame notei algo estranho no “desenho” da minha coluna: ela se parecia com uma letra “S”! O médico disse que eu estava com um desvio acentuado na coluna e que aquilo era a causa da dor que eu estava sentindo. Receitou um analgésico e recomendou que minha mãe me levasse a um especialista.

Na consulta com o novo médico, ele deu um diagnóstico mais preciso: escoliose dorso-lombar (ou coluna em forma de “S”, como eu passei a explicar para quem perguntava). De imediato, ele recomendou que eu parasse de participar das aulas de educação física na escola. Receitou novos remédios e me encaminhou para sessões de fisioterapia por um período indeterminado.

Naquela idade, eu estava começando a me interessar por música e tinha um desejo muito grande de aprender a tocar guitarra. Quando comentei isso em uma das consultas, o médico que acompanhava o tratamento disse que eu teria de esperar, pois o peso do instrumento sobre os ombros poderia agravar o desvio. Perguntei então se era possível trocar a guitarra pelo violão. Mais uma vez, a preocupação dele com a minha postura o levou a me proibir qualquer aula de violão ou guitarra. Outra vontade que eu alimentava era a de começar a treinar judô. Nem preciso dizer qual foi a resposta do médico quando mencionei que queria praticar um esporte em que as quedas e as pancadas na coluna são uma constante. Ele me disse que meu caso necessitava de tantos cuidados para que eu não fosse obrigado a usar um colete ortopédico (ideia que me aterrorizava), daqueles que fazem a criança andar como um robô. Restou-me de consolo a recomendação de praticar natação. Esporte que passei a gostar e que me rendeu até algumas medalhas.

Mas a guitarra e o judô não me saíam da cabeça.

Certo dia, eu estava esperando o atendimento na fisioterapia e uma senhora de meia idade sentou-se ao mau lado. Ela era muito simpática e puxou conversa sobre o porquê de um garoto estar ali no meio de tantas pessoas de idade avançada. Expliquei a ela o motivo do meu tratamento, o que eu estava proibido de fazer e ela me fez uma pergunta:

- Você acredita que Jesus pode te curar?

Imediatamente pensei que ela estava doida, afinal ela também estava fazendo um tratamento na coluna. Prontamente devolvi a pergunta:

- E a senhora, acredita que Ele pode te curar?

Com um sorriso ela disse que era natural uma mulher da idade dela sentir o avançar da idade, mas que Jesus não tinha planejado aquilo para minha vida e que Ele queria me curar.

Passei a achar que ela estava doida mesmo e tentei encerrar a conversa respondendo educada, mas firmemente:

- Senhora, eu acho que Jesus tem coisas mais importantes a fazer do que se preocupar com a minha coluna!

Sem se incomodar nem um pouco com a minha resposta, ela perguntou se podia orar por mim mesmo assim. Eu respondi que sim e ela perguntou meu nome e logo depois eu fui chamado para a minha sessão de tratamento. Nunca mais encontrei aquela mulher na clínica.

Quando isso aconteceu, já havia se passado quase três anos de tratamento e os progressos eram pequenos. As dores diminuíram, mas a coluna continuava torta. A cada radiografia a imagem era sempre a mesma. Porém uma coisa diferente aconteceu: um amigo meu de infância ganhou um violão da sua mãe, mas não tinha inclinação nem vontade de aprender o instrumento. Perguntei se ele poderia deixar o violão comigo por “alguns dias” para eu ver se seria muito difícil tocá-lo. Ele concordou e levei o instrumento para casa.

Curiosamente, minha coluna não doía quando eu estava praticando violão e depois de algum tempo percebi que eu não sentia mais as dores. Nesse mesmo período, meu irmão mais velho começou a trabalhar em uma empresa e não poderia mais ajudar meu pai nas entregas que ele fazia. Assumi então o lugar do meu irmão e o trabalho consistia, em vários momentos, em carregar peso ou fazer força. Nem assim a minha coluna doía!

Aos quinze anos me tornei aprendiz de mecânico na mesma empresa que meu irmão trabalhava e a profissão exigia muito esforço físico. Mesmo assim, minha coluna não doía!

Contrariando o médico, comecei a treinar judô três vezes na semana. Ainda assim, minha coluna não doía!

Para preencher os dois dias que sobravam na semana, passei a praticar musculação e (adivinha!) minha coluna não doía nem um pouquinho.

No ano seguinte conheci um amigo nesse curso de aprendizes e junto com um outro amigo de infância montamos uma banda em que, a princípio, eu tocava contrabaixo (consideravelmente mais pesado que a guitarra!).

Depois de adulto e já casado, minha esposa, ao me ver ajudando meu sogro em diversos trabalhos pesados de construção me disse:

- Você parece Issacar, um jumento de ossos fortes.

A princípio, olhei de soslaio e não entendi que era um elogio (se soubesse, teria dito que ela era tão formosa quanto as éguas de Faraó, como dito em Cantares), depois ela me mostrou o texto bíblico:

Issacar é jumento forte, deitado entre dois fardos.” (Gn 49:14)

Era a bênção que Jacó estava derramando profeticamente sobre seu filho. O que ele faria dali por diante seria responsabilidade do próprio Issacar, mas uma verdade ninguém poderia roubar dele era que ele era capaz daquilo que muitos não suportariam sem se cansar.

Tempos depois que minha esposa me disse isso, me lembrei da mulher que se dispôs a orar por mim ainda na adolescência. Tenho plena convicção, hoje, que foi a mão do Senhor Jesus que operou a cura em meus ossos da coluna. E Deus é tão amoroso que, desde que me converti, tenho tido a oportunidade de orar por pessoas doentes e vê-las sendo curadas pelo poder de Deus.

Percebi com toda essa experiência que Jesus, realmente, tinha coisas mais importantes para se preocupar do que com a minha coluna: Ele se preocupou com a minha alma e me deu de presente uma coluna de ossos fortes como os de um jumento.

terça-feira, 26 de julho de 2011

Sobre Raízes


Tenho muitos tios e muitas tias.

Devido à proximidade com a família da minha mãe, conheço a maioria dos meus tios maternos. Um desses tios (um dos últimos que conheci) é o tio Antônio. Ele, hoje, deve ter uns setenta anos de idade ou mais, porém, quando o conheci na minha infância, ele devia ter por volta de cinquenta anos e estava em pleno vigor físico (pelo fato de ter sido militar). Mesmo após mais de vinte anos sem vê-lo, lembro-me da sua voz nitidamente: um vozeirão grave e em um tom alto (característico do pernambucano legítimo!) que fazia qualquer um acreditar que ele estava de mau humor o tempo todo, mas era só aparência. Ele era um barulhento e bem humorado tio.

Em uma de suas vindas ao Rio de Janeiro para nos visitar, meu tio Antônio trouxe um pacote enorme de castanhas e vários pacotes de frutas típicas do nordeste, dentre as quais uma que eu não conhecia, a siriguela.

Era uma frutinha um pouco maior que uma uva e com a aparência de um cajá em miniatura, entretanto o sabor não é parecido com nada que eu já provei antes. Fiquei tão encantado com aquela frutinha tão saborosa que quis plantá-la no quintal em que morávamos. Minha tia gostou da ideia e, no pouco espaço de terra que havia sobrado no terreno, me ajudou a plantar as sementes que eu havia guardado.

Foi grande a minha decepção ao ver, depois de alguns anos, que a árvore da siriguela não tinha ultrapassado um metro de altura. Durante os anos seguintes que ainda morei no mesmo terreno que minha avó e minhas tias, aquela árvore pareceu não crescer nenhum centímetro.

Quando a casa da minha família ficou pronta, nos mudamos para o terreno ao lado e continuei insistindo na ideia de ter um pé de siriguela no quintal. Levei um galho da planta que minha tia tinha me ajudado a plantar e plantei no novo lugar, mais amplo e, acredito, em um solo mais fértil. A diferença foi evidente: A árvore cresceu rapidamente e alcançou a altura do sobrado que havia do lado da minha casa, mas, curiosamente, não deu as frutas que eu tanto esperava.

Quatro anos se passaram e nenhuma fruta nasceu naquela árvore bonita e frondosa. Estávamos a ponto de desistir e cortá-la para dar lugar a uma nova construção quando, surpreendentemente, as siriguelas começaram a crescer. Depois de alguns meses, a produção daquela planta foi tão intensa que me lembro de ter dividido as frutas com as minhas tias que moravam ao lado, com alguns vizinhos, e eu ainda levei algumas para os meus colegas de escola. Saciei a vontade de comer aquelas frutas tão esperadas.

Curiosamente, nossa árvore de siriguela nunca mais frutificou e tivemos que arrancá-la para dar lugar a uma construção.

A Palavra de Deus fala de uma parábola em que o dono de uma propriedade pede a seu empregado que retire uma planta que ocupa a terra inutilmente:

E passou a narrar esta parábola: Certo homem tinha uma figueira plantada na sua vinha; e indo procurar fruto nela, e não o achou. Disse então ao viticultor: Eis que há três anos venho procurar fruto nesta figueira, e não o acho; corta-a; para que ocupa ela ainda a terra inutilmente? Respondeu-lhe ele: Senhor, deixa-a este ano ainda, até que eu cave em derredor, e lhe deite estrume; e se no futuro der fruto, bem; mas, se não, cortá-la-ás.” (Lc 13:6-9).

Na parábola, o empregado se compromete a cavar ao redor da planta e a adubá-la. Duas coisas me chamam a atenção nas atitudes desse empregado: cavar ao redor significa ter as raízes expostas, significa admitir diante de Deus que nosso pecado, aquilo que nos impede de crescer e frutificar, está localizado no lugar mais íntimo do nosso coração. Ter as raízes expostas representa a instabilidade da planta, o limite entre a morte e a possibilidade de restauração das raízes. Quantas vezes rejeitamos o tratamento que o Senhor Jesus nos oferece porque não confiamos que a exposição necessária diante de Deus é o caminho da cura. Nossa mente nos leva a acreditar que a exposição de nossos pecados diante do Pai vai nos causar mais ruína. O inimigo de nossas almas usa dois sentimentos bem conhecidos por nós para nos manter escravos dos pecados guardados em nossas raízes: o orgulho e a soberba.

No momento em temos que decidir entre aceitar o tratamento que o Espírito Santo nos oferece amorosamente ou continuarmos enraizados no pecado, Satanás trabalha nesses dois sentimentos: o orgulho de não querermos parecer fracos diante dos nossos irmãos, diante dos nossos líderes (ou de nossos liderados!) e a soberba de não admitirmos que nosso pecado seja tão destrutivo a ponto de nos tornar infrutíferos. Nessas horas é mais fácil culpar o diabo, a igreja, o pastor e os irmãos do que admitir que nossa infertilidade é culpa dos pecados guardados em nossas raízes.

A outra disposição do empregado que me chama a atenção é a de adubar as raízes. O esterco não é, nem de longe, uma coisa agradável. Seu cheiro incomoda, sua aparência é repugnante, porém não existe nada mais saudável para uma planta doente como o esterco. O Senhor muitas vezes quer nos tratar em nossas raízes, mas ficamos inseguros em aceitar o tratamento porque nos parece desagradável demais, rígido demais, cruel demais. Esquecemos que Ele é o Pai amoroso que nos quer limpos, livres e ao seu lado. Por mais duro que pareça o tratamento, Deus sabe o que é necessário e libertador e também sabe os nossos limites e nossa estrutura.

Quando aceitamos que o Senhor Jesus cave ao nosso redor, deite o nutriente necessário somos restaurados e ficamos prontos a frutificar a trinta, a sessenta e a cem por um. Porém, mais importante que o nosso próprio frutificar é sair enriquecido pela experiência de ter sido cuidado e protegido pelo próprio Deus.

quinta-feira, 14 de julho de 2011

De Ouvido


Sempre admirei as pessoas que aprendem coisas sozinhas.

Desde muito pequeno prestava atenção na minha mãe confeitando bolos e achava incrível como ela, sem nunca ter feito nenhum curso ou treinamento naquilo, conseguia criar bolos do jeito que as pessoas lhe encomendavam ou do jeito que lhe mostravam nas revistas que exibiam decorações de festas de aniversário. Era simplesmente fascinante ver que ela fazia aquilo só prestando atenção nas coisas ou vendo as receitas pela televisão.

Mais admirável ainda foi um senhor que conheci ainda na minha infância. Não sei ao certo se seu nome era mesmo aquele, mas as pessoas o chamavam de Sr. Gentil e, como o nome sugeria, ele era uma pessoa muito agradável de se estar perto. Deixe-me contar por que ele aparece nesta história.

Minha família era tradicionalmente católica, então, a primeira formação religiosa que nós recebemos foi a católica. Eu, meu irmão e minhas primas frequentávamos uma comunidade de base, muito frequentes nas décadas de setenta e oitenta pela escassez de padres. Nessas comunidades os “leigos” assumiam funções delegadas pelos representantes da paróquia e o padre (que só tinha como acompanhar a comunidade, às vezes, quinzenalmente) resolvia os assuntos pendentes que fugiam ao poder de decisão dos paroquianos.

Em um ambiente em que as pessoas tinham que se ouvir mutuamente era comum que todos fossem convidados a opinar e nas celebrações em que o padre não estava presente os próprios paroquianos se encarregavam da pregação da Palavra. Alguns dos palestrantes abriam espaço para que outras pessoas presentes pudessem compartilhar aquilo que lhes tinha sido mais importante. Sempre que isso acontecia, o Sr. Gentil pedia para participar.

Ele era um homem de uns cinquenta anos (mas aparentava ter muito mais por causa da dura vida de agricultor que levava no interior), de semblante calmo e sorridente. Seu visual era muito parecido com as representações que os comediantes costumam fazer das pessoas do campo: camisa xadrez, calças dobradas na altura da bainha, barba sempre por fazer e um sotaque característico de um brasileiro interiorano.

Como eu ia dizendo, Sr. Gentil sempre gostava de compartilhar o que havia entendido da leitura da Palavra, ou melhor, das Palavras. Eu explico: nas celebrações eram lidos três textos da bíblia e mais um salmo. A primeira leitura sempre era um texto do antigo testamento, geralmente um profeta maior; a segunda leitura era um texto do novo testamento, frequentemente uma das epístolas de Paulo e a terceira leitura era, invariavelmente, uma passagem dos evangelhos. Quando o pregador da celebração fazia o convite às pessoas que gostariam de falar à igreja, o Sr. Gentil aguardava sua vez pacientemente e dava algumas palavras sobre a primeira leitura, depois sobre a segunda leitura e sobre o evangelho. Até aí não há nada de admirável, e não seria mesmo se não fosse o fato de que ele era completamente analfabeto (ou como ele mesmo dizia, sem leitura nenhuma).

Quando soube que o Sr. Gentil não sabia ler, passei a observá-lo: durante as leituras da Palavra ele fechava os olhos e parecia estar dormindo, entretanto ele era capaz de elaborar um breve esboço de cada uma das passagens mencionando de qual leitura era extraído o comentário que estava fazendo. Ainda criança, aquilo me causava uma admiração tão grande que uma vez perguntei a ele como ele conseguia fazer tal coisa. Sua resposta foi tão simples quanto sua maneira de explanar os comentários da Palavra: Eu só ouço e presto atenção!

Ele simplesmente ouvia com atenção. Ele aprendia pelo ouvir.

Daquele dia em diante, passei a dar mais valor ao que era lido e pregado e, com isso, a minha curiosidade sobre a Palavra de Deus aumentou e tive que ler a Bíblia para saciar a minha “curiosidade” e passei a entender verdades que me conduziram, na idade adulta, a um encontro verdadeiro com Jesus Cristo. Entretanto as duas passagens que mais me constrangeram a tomar minha decisão de me converter ao Senhor Jesus foram Rm 10: 17 e Tg 1:23-25.

a fé é pelo ouvir e ouvir a Palavra de Cristo

Pois se alguém é ouvinte da palavra e não cumpridor, é semelhante a um homem que contempla no espelho o seu rosto natural; porque se contempla a si mesmo e vai-se, e logo se esquece de como era. Entretanto aquele que atenta bem para a lei perfeita, a da liberdade, e nela persevera, não sendo ouvinte esquecido, mas executor da obra, este será bem-aventurado no que fizer.”

Quando nos tornamos ouvintes atentos da Palavra, descobrimos as verdades da lei perfeita da liberdade, entendemos que só em Jesus há a verdadeira vida e aprendemos o caminho para um novo tipo de relacionamento com Ele: o ouvir da voz do próprio Deus em nosso coração.

domingo, 10 de julho de 2011

DE VIDEOGAMES A PRINCÍPIOS


Sempre gostei de vídeo games.

Desde pequeno, quando só havia o Atari 2600, eu, meu irmão e meus primos, passávamos muitas horas nos divertindo. Megamania, Sea Quest, River Raid, Pittfall e muitos outros jogos (que só fazem sentido para quem tem mais de trinta anos) foram os motivos dessas horas felizes. Mas o tempo passou e deixei a diversão um pouco de lado para dar lugar às responsabilidades (que chegaram cedo!).

Depois de adulto, comprei o meu primeiro computador e descobri que os jogos para PC eram muito melhores que os jogos do velho Atari 2600. Como o dinheiro era curto e não me permitia comprar os lançamentos, passei a comprar revistas sobre jogos que traziam CD’s ou com versões de demonstração ou com o jogo completo. De uma forma ou de outra, eu matava a saudade dos jogos da infância.

Pouco tempo depois (e com alguns trocados a mais no salário), pude comprar jogos que estavam em promoção. Comprava um jogo a cada três ou quatro meses e me divertia muito nos poucos minutos que tinha disponível entre um turno de trabalho e outro. Nessa época, um tipo de jogo pelo qual tive uma predileção evidente foram os simuladores. Carros de corrida, naves, barcos e, principalmente, os simuladores de voo.

Comprei um simulador de voo chamado F22 que era o que havia de mais realista até então em matéria de jogos de aviões. Era um jogo complexo cujo aprendizado era demorado, mas eu estava resoluto a aprender a controlar aquele caça. Segundo o fabricante do jogo, a simulação era idêntica às condições enfrentadas por um piloto em uma aeronave de verdade o que me deixava mai ansioso para chegar aos níveis de combate aéreo o mais cedo possível.

Para “facilitar” o aprendizado o game era composto por diferentes missões incluindo a missão de pouso e decolagem (que, obviamente, ignorei por querer aprender logo a controlar o avião em combate) e as missões de combate aéreo propriamente dito.

Nem preciso dizer que fiquei muito bom no combate, mas eu tinha uma fraqueza que me impedia de completar cada uma das missões: eu não sabia pousar o avião!

Minha ansiedade de derrotar o adversário não me permitiu ver que eu não estava pronto o suficiente para o combate. De nada adiantava eu abater todas as aeronaves inimigas se, logo em seguida, eu destruía a minha própria aeronave. Se não fosse uma simulação, eu seria um excelente piloto DE UMA SÓ MISSÃO!

Na vida espiritual cometemos erros parecidos com os que eu cometi com o simulador de voo: queremos entrar logo em “combate”, mas nos esquecemos de aprender uma coisa fundamental: PRINCÍPIOS.

A Palavra de Deus nos mostra que, quando aprendemos princípios, nossa caminhada espiritual se torna menos árdua e um princípio a ser aprendido por todos aqueles que anseiam por enveredar na batalha espiritual é o da armadura de Deus.

A carta aos efésios no capítulo seis nos fala de todas as peças da armadura de um servo de Deus

Portanto tomai toda a armadura de Deus, para que possais resistir no dia mau e, havendo feito tudo, permanecer firmes. Estai, pois, firmes, tendo cingidos os vossos lombos com a verdade, e vestida a couraça da justiça e calçando os pés com a preparação do evangelho da paz, tomando, sobretudo, o escudo da fé, com o qual podereis apagar todos os dardos inflamados do Maligno. Tomai também o capacete da salvação, e a espada do Espírito, que é a palavra de Deus” (Ef 6:13 – 17)

O cuidado de Deus com seus filhos é tão grande no que tange a nossa proteção em combate que, primeiro, o Senhor lista todas as armas de defesa que precisamos aprender a manejar (note a importância que Ele dá ao escudo!) para somente depois nos entregar uma arma de ataque: Sua palavra.

Jesus não deseja que sejamos guerreiros de uma só batalha. Ele não quer que depois de termos subjugado e vencido demônios sejamos derrotados por inimigos aparentemente menos agressivos: a mentira, o julgamento injusto, o cansaço espiritual e a falta de fé.

Os planos de Deus para nós são os mesmos que Ele teve em relação ao Apóstolo Paulo:

Combati o bom combate, acabei a carreira, guardei a fé.” (2Tm 4:7)

O Senhor Jesus nos quer voando alto em nossa vida espiritual, vencendo os adversários espirituais que se opõem a nós e, por último, retornando seguros aos braços do Pai sem o medo de não saber fazer uma aterrissagem segura.