quinta-feira, 30 de agosto de 2012

"GANHANDO" ALMAS PARA DEUS

Durante um tempo, minha igreja utilizou uma prática de discipulado muito simples. Nós nos reuníamos em grupos nas casas e, caso alguém decidisse entregar a vida a Jesus em uma dessas reuniões, o líder do grupo ficava incubido de inseri-lo na vida cristã e no convívio comunitário. Era um trabalho árduo, pois muita coisa era feita de forma individual, apenas o "discipulador" e o novo "discípulo", desta forma, não era viável para alguém com responsabilidades como cumprir horário de trabalho, ter muitos "discípulos" de uma só vez.
Em quatro anos, devo ter conseguido acompanhar três ou quatro pessoas 
Não é preciso dizer que esse método surte resultados bem diferentes daqueles que qualquer igreja deseja. Não se "explode" em número de membros trabalhando assim, pois o inserir uma pessoa na vida em Cristo, leva tempo, não se faz com um determinado número de versículos que o "discípulo" venha a memorizar, em se pode fixar prazos para que o neófito atinja a maturidade suficiente para o alimento sólido.  Antes se faz com demonstrações de vida com Deus.
Lembro-me de receber algumas pessoas na minha casa para esses encontros de discipulado. A maioria das vezes, a reunião era o motivo de um almoço ou de um "cafezinho" à tarde. Alguns acompanharam os primeiros anos de meus filhos e foram chamados por eles de "tios". Alguns precisaram ser acompanhados por mim e minha esposa e isso implicava em dar bom testemunho em meu casamento para que a noção de família dentro dos planos de Deus pudessem ser ensinados.
Digo isso para mostrar como leva tempo e é trabalhoso (também muito prazeroso) conquistar uma vida para o Reino de Deus. Não é uma questão de contabilidade de almas, é uma questão de qualidade de cristãos.
Não obstante esse "trabalhão", alguns desses "discípulos", em algum momento, deixaram a igreja e partiram para outras congregações ou mesmo deixaram de congregar qualquer lugar. Imagine o quão frustrante é para alguém que investiu tempo e expectativas e uma pessoa para depois vê-la ir para outra igreja ou, pior ainda, vê-la voltar ao "mundo".
Muito me incomodou essa situação até que, um domingo à noite, um dos jovens que recebia em minha casa compareceu ao culto e eu, desatento, não o tinha visto até que ele veio falar comigo. Alguns anos haviam passado desde nossa última reunião e ele já não era um adolescente, mas um homem feito, acompanhado pela noiva. Nossa conversa durou algumas dezenas de minutos e ele contou das mudanças de vida desde então, seu trabalho, os estudos, a vida afetiva etc. No fim do papo, eu o abracei disse que estava muito feliz em revê-lo e nos despedimos. Quando entrei no carro, atentei que não havia falado nada sobre a vida espiritual dele nem o havia convidado a voltar.
No domingo seguinte, lá estava ele! Desta vez em uma aula da escola dominical. Quan não estava era eu. Depois da ministração da aula, sem que houvesse apelo, aquele rapaz disse que gostaria de entregar a vida a Jesus, pois agora compreendia a necessidade de fazer tal entrega.
Os anos amadureceram a palavra naquele jovem.
Outros com histórias parecidas também se afastaram e se estabeleceram em outras congregações.
Deus me chamou a atenção para o fato de que os "discípulos" não eram MEUS, mas DELE.
Nenhuma ira ou mágoa permaneceu em meu coração depois disso, apenas a compreensão de que não há trabalho vão quando o assunto é ganhar almas.
Mas por que contei tudo isso?
Ao olhar o site de uma determinada igreja midiática, a página de abertura exibia  (pasmem!) um contador de almas, já na casa dos milhares e, ao lado desse número, os números do último megaevento (era exatamente esse o termo empregado) promovido pela denominação: onze mil almas.
Impressionante, não?
Meu primeiro pensamento foi: quem vai acompanhar tanta gente?
Certamente o preletor responsável pela pregação nesse dia não deve ter espaço na agenda para atender as onze mil almas.
Fiquei constrangido, não pelo contraste entre  o desempenho do "megapreletor" e o meu, mas porque uma simples coisa foi esquecida pelo reponsável pela página: Almas não são apenas números em um contador. Almas são HISTÓRIAS DE VIDAS que continuam a ser escritas depois de um encontro com Jesus.