quarta-feira, 12 de setembro de 2012

Vestes de louvor

Há dois meses, aproximadamente, recebi um diagnóstico que, no fundo, no fundo, eu já tinha certeza: hipertensão.
Minha primeira reação foi a preocupação leve, pois, estava cerca de quarenta quilos acima do peso recomendado para alguém da minha estatura, então concluí que bastava perder peso e tudo se resolveria. Entretanto, o médico não foi tão animador e me disse que pelo histórico de minha família seria muito provável um caso de hipertensão crônica. Na dúvida, ele optou por iniciar uma medicação para regularizar a situação até que eu perca o peso necessário.
Nem preciso dizer que a preocupação, outrora leve, transformou-se em um tormento que me fez cair em um circulo vicioso: minha pressão aumentava e eu me preocupava com isso fazendo com que ela subisse mais ainda e com que eu me preocupasse mais ainda....
Meu receio era que uma das complicações provenientes da hipertensão me acometesse: um AVC, um enfarto ou algo parecido. Minhas preocupações, todavia, não eram em relação a mim mesmo, mas com minha família. Como minha esposa e meus filhos (ainda pequenos) cresceriam sem o pai por perto. Como explicar a eles que aquelem homem grandalhão que parecia um rochedo havia morrido de uma doença silenciosa? Como conviver com a ideia da solidão que eu deixaria no coração da minha esposa? Esses pensamentos estavam me consumindo.
Tamanha era a preocupação que coisas mínimas causavam um transtorno muito grande em meu humor (pode não parecer até aqui, mas geralmente sou bem humorado. leia os outros posts e confira!). Um simples defeito no carro era capaz de arruinar meu dia, de me deixar inerte diante de uma pequena dificuldade. Certo dia fiquei duas horas esperando o socorro de um mecânico que, quando chegou, não fez absolutamente NADA. Só pediu que eu virasse a chave para ver o defeito (que não estava mais lá). Pedi mil desculpas, disse a ele que havia tentado a mesma coisa, só que sem sucesso. Ele não quis cobrar, mas o convenci a aceitar a compensação pelo tempo e o combustível gastos.
Outros pequenos problemas surgiram naquela semana e quase todos me tiraram a paz até que, depois de um dia daqueles, decidi ir para casa ao invés de ir para o trabalho. Avisei meu chefe da minha impossibilidade de comparecer naquele dia e pedi que ele avisasse aos alunos sobre minha ausência.
Chegando em casa, abri meu coração para minha esposa a respeito de como essas pequenas angústias estavam roubando minha paz. Ganhei um abraço, um sorriso e o apoio de minha amada de forma doce e acalentadora.
Naquele exato momento, meus filhos irromperam cozinha adentro me chamando para brincar com eles. Mesmo que empurrado pela responsabilidade de pai, me permiti ser arrastado para o quarto deles e pedi que cada um escolhesse um brinquedo para levar para a sala. Foi quando vi o violão do Caio César (meu filho mais velho) e escolhi meu "brinquedo". Sentei-me na sala com eles, afinei as cordas já gastas do instrumento e arrisquei um louvor. Comecei a cantar uma canção de Cláudio Claro (Pão da vida),  e João Marcelo (meu filho mais novo) parou imediatamente de brincar e sentou-se ao meu lado tentando me acompanhar mesmo sem conhecer a letra. Minha esposa entrou na sala (estava voltando da padaria com um pão quentinho!) e sorriu  entrando no coral imediatamente. Caio achegou-se para ouvir e cantamos juntos, adorando a Deus. Lembrei-me de que o computador da sala estava ligado e consultei a cifra de uma outra canção na internet. Adoramos mais um pouco e, ao fim daquela música, percebi que minha inquietação havia se dissipado. Quando abri os olhos e olhei para o lado, João estava prostrado e em lágrimas de adoração (ele tem apenas seis anos), percebi então que aquele momento íntimo de adoração era o que estava faltando em minha vida.  É o momento que você escolhe dizer ao Pai que Ele é digno de toda honra, todo louvor e toda a gratidão.
Passamos a ouvir canções antigas de adoração até que uma me chamou a atenção: "O espírito do Senhor está sobre mim (...) ele me ungiu para pregar boas-novas as quebrantados e derramar óleo de alegria ao invés de cinzas e VESTES DE LOUVOR AO INVÉS DE ESPÍRITO ANGUSTIADO".
 Entendi por que minha inquietação havia passado.
Lembrei-me das palavras que o Espírito Santo vinha semeando em meu coração há alguns dias atrás: "Adorar é reconciliar-se com Deus". 
A adoração era, para o povo de Deus no Antigo Testamento, uma forma de se reconciliar com o Senhor. As ofertas de sacrifícios eram a admissão da culpa e o pedido de perdão. E isto era a adoração! 
Erguer o altar, sacrificar, queimar a oferta, deixar Deus satisfeito. Isto era a adoração!
Adoração era um pedido de reaproximação. Um pedido de "repatriamento", Um pedido para voltar a ser aceito como filho.
Abel sabia disso. Enos sabia disso. Noé sabia disso. Abraão sabia disso. Davi sabia disso. A mulher na casa do fariseu sabia disso. 
Jesus se fez adoração ao se entregar na cruz nos reconciliando permanentemente com o Pai.
Graças a Deus pela oportunidade de adorar!

segunda-feira, 3 de setembro de 2012

Todas as coisas

Justiça é uma ideia que mexe com qualquer ser humano, seja ele da idade que for.
Recentemente, li um artigo em uma revista da área de educação em que pesquisadores afirmavam que o senso de justiça dos bebês de oito meses a um ano já estava bastante desenvolvido. Em uma série de desenhos animados, um dado personagem cometia maldades com os demais, entretanto dois finais distintos eram exibidos, no primeiro, o "malvado" era punido pelas suas atitudes, em outro final, os amiguinhos o perdoavam pelos seus erros. A reação foi surpreendente para os pesquisadores: os bebês se decepcionaram quando o "malvado" foi perdoado e uma das crianças chegou a caminhar na direção da tela e  "dar umas palmadas" no personagem que não puniu o malvado.
Essa experiência mostra que, desde cedo, clamamos por justiça e na ausência da mesma, dispomo-nos, de certa forma, a impô-la do nosso modo. O problema reside aí: até que ponto nossa justiça é eficaz? Até que ponto ela é JUSTA?
A Palavra de Deus me chama a atenção para dois discursos sobre justiça. O primeiro nos diz que nossas justiças são como "trapo de imundícia". Essa expressão se referia ao pano utilizado pelas mulheres para conter o fluxo menstrual. Com essa figura de linguagem, Deus estava nos dizendo que nossa justiça é, por natureza, parcial, corrupta e, consequentemente, impura.
Deus estava deixando laro que somos falhos em avaliar de forma justa as situações, pois para o homem é impossível sondar as motivações do coração de quem está sob julgamento. Atitudes aparentemente más podem ser motivadas pelos mais nobres sentimentos, por exemplo, as correções aplicadas por Deus ao Seu povo quando este maculava a aliança estabelecida. O homem não consegue vasculhar a alma em busca do arrependimento após o erro e, por isso, julga cm mais severidade do que deveria.
Daí a advertência de Jesus para não nos colocarmos no papel de juízes de nossos irmãos. Não se conclua daí que devemos fechar os olhos para as atitudes erradas daqueles que nos cercam, antes é uma advertência a não fecharmos a porta da reconciliação conosco ou com o Altíssimo, jogando o infrator na condenação prévia.
Por falar em reconciliação, o outro texto que me remete à ideia de justiça na bíblia é a famosa exortação proferida por Jesus: "Buscai primeiro o reino de Deus e a sua justiça e as todas as coisas vos serão acrescentadas".
Normalmente nos fixamos na exortação à busca pelo reino (o que é nobre) e queremos que por meio dessa busca, todas as coisas sejam acrescentadas; mas rareiam as vezes em que nos preocupamos com a "sua justiça". Creio que a buscamos menos por compreendê-la menos. Afinal, o que é a Justiça do reino?
Se pensarmos que Deus olhou para a terra e não viu um justo sequer, talvez percamos a esperança de encontrar a justiça entre os homens, mas Jesus nos garante que seremos referencial de justiça quando Ele nos justifica por meio de seu sacrifício. Fomos justificados em Cristo Jesus, isso equivale a dizer que fomos transformados em justos, não por nossos méritos, mas por que adentramos o "reino" ao nos rendermos ao Messias. A justiça do reino é algo que vem a nós quando buscamos ao Senhor por meio da reconciliação com Jesus. Depois de reconciliados temos acesso à justificação e passamos à condição de portadores da justiça do reino (não por mérito,mas por graça) e quanto mais próximos do coração de Deus queremos estar, mais próximos da Sua justiça iremos chegar.
Quando compreendemos o reino e sua justiça dessa forma vem sobre nós a compreensão do porquê de todas as  coisas serem acrescentadas: quando buscamos o coração de Deus passamos a desejar os seus sonhos e, justificados pela graça, compreendemos os recursos que Ele se propõe a confiar a nós.
Passamos a entender, então, que todas as coisas são acrescentadas aos que buscam, permanentemente, a reconciliação, com Deus e com os irmãos, pois onde há a reconciliação, há o perdão contínuo e onde há o perdão contínuo não há lugar para julgamentos humanos, logo, a única justiça presente é a justificação por meio de Cristo Jesus.
Em um reino como esse não há espaço para a tentação de exercermos a justiça própria.