segunda-feira, 3 de setembro de 2012

Todas as coisas

Justiça é uma ideia que mexe com qualquer ser humano, seja ele da idade que for.
Recentemente, li um artigo em uma revista da área de educação em que pesquisadores afirmavam que o senso de justiça dos bebês de oito meses a um ano já estava bastante desenvolvido. Em uma série de desenhos animados, um dado personagem cometia maldades com os demais, entretanto dois finais distintos eram exibidos, no primeiro, o "malvado" era punido pelas suas atitudes, em outro final, os amiguinhos o perdoavam pelos seus erros. A reação foi surpreendente para os pesquisadores: os bebês se decepcionaram quando o "malvado" foi perdoado e uma das crianças chegou a caminhar na direção da tela e  "dar umas palmadas" no personagem que não puniu o malvado.
Essa experiência mostra que, desde cedo, clamamos por justiça e na ausência da mesma, dispomo-nos, de certa forma, a impô-la do nosso modo. O problema reside aí: até que ponto nossa justiça é eficaz? Até que ponto ela é JUSTA?
A Palavra de Deus me chama a atenção para dois discursos sobre justiça. O primeiro nos diz que nossas justiças são como "trapo de imundícia". Essa expressão se referia ao pano utilizado pelas mulheres para conter o fluxo menstrual. Com essa figura de linguagem, Deus estava nos dizendo que nossa justiça é, por natureza, parcial, corrupta e, consequentemente, impura.
Deus estava deixando laro que somos falhos em avaliar de forma justa as situações, pois para o homem é impossível sondar as motivações do coração de quem está sob julgamento. Atitudes aparentemente más podem ser motivadas pelos mais nobres sentimentos, por exemplo, as correções aplicadas por Deus ao Seu povo quando este maculava a aliança estabelecida. O homem não consegue vasculhar a alma em busca do arrependimento após o erro e, por isso, julga cm mais severidade do que deveria.
Daí a advertência de Jesus para não nos colocarmos no papel de juízes de nossos irmãos. Não se conclua daí que devemos fechar os olhos para as atitudes erradas daqueles que nos cercam, antes é uma advertência a não fecharmos a porta da reconciliação conosco ou com o Altíssimo, jogando o infrator na condenação prévia.
Por falar em reconciliação, o outro texto que me remete à ideia de justiça na bíblia é a famosa exortação proferida por Jesus: "Buscai primeiro o reino de Deus e a sua justiça e as todas as coisas vos serão acrescentadas".
Normalmente nos fixamos na exortação à busca pelo reino (o que é nobre) e queremos que por meio dessa busca, todas as coisas sejam acrescentadas; mas rareiam as vezes em que nos preocupamos com a "sua justiça". Creio que a buscamos menos por compreendê-la menos. Afinal, o que é a Justiça do reino?
Se pensarmos que Deus olhou para a terra e não viu um justo sequer, talvez percamos a esperança de encontrar a justiça entre os homens, mas Jesus nos garante que seremos referencial de justiça quando Ele nos justifica por meio de seu sacrifício. Fomos justificados em Cristo Jesus, isso equivale a dizer que fomos transformados em justos, não por nossos méritos, mas por que adentramos o "reino" ao nos rendermos ao Messias. A justiça do reino é algo que vem a nós quando buscamos ao Senhor por meio da reconciliação com Jesus. Depois de reconciliados temos acesso à justificação e passamos à condição de portadores da justiça do reino (não por mérito,mas por graça) e quanto mais próximos do coração de Deus queremos estar, mais próximos da Sua justiça iremos chegar.
Quando compreendemos o reino e sua justiça dessa forma vem sobre nós a compreensão do porquê de todas as  coisas serem acrescentadas: quando buscamos o coração de Deus passamos a desejar os seus sonhos e, justificados pela graça, compreendemos os recursos que Ele se propõe a confiar a nós.
Passamos a entender, então, que todas as coisas são acrescentadas aos que buscam, permanentemente, a reconciliação, com Deus e com os irmãos, pois onde há a reconciliação, há o perdão contínuo e onde há o perdão contínuo não há lugar para julgamentos humanos, logo, a única justiça presente é a justificação por meio de Cristo Jesus.
Em um reino como esse não há espaço para a tentação de exercermos a justiça própria.

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