
Eu estava no meio de uma aula na quinta série (atual sexto ano) do ensino fundamental quando uma inquietação tomou conta de mim. Eu não me sentia à vontade sentado em minha cadeira e aquela sensação não melhorava quando eu me punha de pé. A hora de ir para casa parecia não chegar. Quando tive de descer as escadas da escola para ir em direção ao ponto de ônibus, pude perceber que meu incômodo era uma dor aguda na coluna. Eu não conseguia me lembrar de nada que tivesse feito na escola que pudesse justificar tamanha dor. Não havia sido dia de educação física e eu também não havia me metido em nenhuma brincadeira que tivesse causado uma queda ou contusão. Sem entender o motivo da dor, fui para casa.
O caminho foi particularmente cruel. A viagem durava quase meia hora, mas, naquele dia, o tempo parecia não se mover (diferentemente do ônibus, que parecia se mover pra cima, pra baixo e para os lados mais do que nos outros dias). Depois que desci do transporte, ainda tive de andar cerca de duzentos metros até minha casa. Em todo esse tempo, a dor aumentava.
Quando cheguei em casa, queixei-me com minha mãe da dor, ela (achando que aquilo era o resultado de mais uma manhã de brincadeiras físicas) me disse para deitar e descansar um pouco que eu melhoraria. De fato, quando me deitei, a dor diminuiu, mas voltava cada vez que eu me levantava ou mesmo ficava sentado. Preocupada, minha mãe me levou na manhã seguinte a um médico.
Após me atender, o médico pediu uma radiografia para ter mais informações. Quando ele nos chamou novamente para informar o resultado do exame notei algo estranho no “desenho” da minha coluna: ela se parecia com uma letra “S”! O médico disse que eu estava com um desvio acentuado na coluna e que aquilo era a causa da dor que eu estava sentindo. Receitou um analgésico e recomendou que minha mãe me levasse a um especialista.
Na consulta com o novo médico, ele deu um diagnóstico mais preciso: escoliose dorso-lombar (ou coluna em forma de “S”, como eu passei a explicar para quem perguntava). De imediato, ele recomendou que eu parasse de participar das aulas de educação física na escola. Receitou novos remédios e me encaminhou para sessões de fisioterapia por um período indeterminado.
Naquela idade, eu estava começando a me interessar por música e tinha um desejo muito grande de aprender a tocar guitarra. Quando comentei isso em uma das consultas, o médico que acompanhava o tratamento disse que eu teria de esperar, pois o peso do instrumento sobre os ombros poderia agravar o desvio. Perguntei então se era possível trocar a guitarra pelo violão. Mais uma vez, a preocupação dele com a minha postura o levou a me proibir qualquer aula de violão ou guitarra. Outra vontade que eu alimentava era a de começar a treinar judô. Nem preciso dizer qual foi a resposta do médico quando mencionei que queria praticar um esporte em que as quedas e as pancadas na coluna são uma constante. Ele me disse que meu caso necessitava de tantos cuidados para que eu não fosse obrigado a usar um colete ortopédico (ideia que me aterrorizava), daqueles que fazem a criança andar como um robô. Restou-me de consolo a recomendação de praticar natação. Esporte que passei a gostar e que me rendeu até algumas medalhas.
Mas a guitarra e o judô não me saíam da cabeça.
Certo dia, eu estava esperando o atendimento na fisioterapia e uma senhora de meia idade sentou-se ao mau lado. Ela era muito simpática e puxou conversa sobre o porquê de um garoto estar ali no meio de tantas pessoas de idade avançada. Expliquei a ela o motivo do meu tratamento, o que eu estava proibido de fazer e ela me fez uma pergunta:
- Você acredita que Jesus pode te curar?
Imediatamente pensei que ela estava doida, afinal ela também estava fazendo um tratamento na coluna. Prontamente devolvi a pergunta:
- E a senhora, acredita que Ele pode te curar?
Com um sorriso ela disse que era natural uma mulher da idade dela sentir o avançar da idade, mas que Jesus não tinha planejado aquilo para minha vida e que Ele queria me curar.
Passei a achar que ela estava doida mesmo e tentei encerrar a conversa respondendo educada, mas firmemente:
- Senhora, eu acho que Jesus tem coisas mais importantes a fazer do que se preocupar com a minha coluna!
Sem se incomodar nem um pouco com a minha resposta, ela perguntou se podia orar por mim mesmo assim. Eu respondi que sim e ela perguntou meu nome e logo depois eu fui chamado para a minha sessão de tratamento. Nunca mais encontrei aquela mulher na clínica.
Quando isso aconteceu, já havia se passado quase três anos de tratamento e os progressos eram pequenos. As dores diminuíram, mas a coluna continuava torta. A cada radiografia a imagem era sempre a mesma. Porém uma coisa diferente aconteceu: um amigo meu de infância ganhou um violão da sua mãe, mas não tinha inclinação nem vontade de aprender o instrumento. Perguntei se ele poderia deixar o violão comigo por “alguns dias” para eu ver se seria muito difícil tocá-lo. Ele concordou e levei o instrumento para casa.
Curiosamente, minha coluna não doía quando eu estava praticando violão e depois de algum tempo percebi que eu não sentia mais as dores. Nesse mesmo período, meu irmão mais velho começou a trabalhar em uma empresa e não poderia mais ajudar meu pai nas entregas que ele fazia. Assumi então o lugar do meu irmão e o trabalho consistia, em vários momentos, em carregar peso ou fazer força. Nem assim a minha coluna doía!
Aos quinze anos me tornei aprendiz de mecânico na mesma empresa que meu irmão trabalhava e a profissão exigia muito esforço físico. Mesmo assim, minha coluna não doía!
Contrariando o médico, comecei a treinar judô três vezes na semana. Ainda assim, minha coluna não doía!
Para preencher os dois dias que sobravam na semana, passei a praticar musculação e (adivinha!) minha coluna não doía nem um pouquinho.
No ano seguinte conheci um amigo nesse curso de aprendizes e junto com um outro amigo de infância montamos uma banda em que, a princípio, eu tocava contrabaixo (consideravelmente mais pesado que a guitarra!).
Depois de adulto e já casado, minha esposa, ao me ver ajudando meu sogro em diversos trabalhos pesados de construção me disse:
- Você parece Issacar, um jumento de ossos fortes.
A princípio, olhei de soslaio e não entendi que era um elogio (se soubesse, teria dito que ela era tão formosa quanto as éguas de Faraó, como dito em Cantares), depois ela me mostrou o texto bíblico:
“Issacar é jumento forte, deitado entre dois fardos.” (Gn 49:14)
Era a bênção que Jacó estava derramando profeticamente sobre seu filho. O que ele faria dali por diante seria responsabilidade do próprio Issacar, mas uma verdade ninguém poderia roubar dele era que ele era capaz daquilo que muitos não suportariam sem se cansar.
Tempos depois que minha esposa me disse isso, me lembrei da mulher que se dispôs a orar por mim ainda na adolescência. Tenho plena convicção, hoje, que foi a mão do Senhor Jesus que operou a cura em meus ossos da coluna. E Deus é tão amoroso que, desde que me converti, tenho tido a oportunidade de orar por pessoas doentes e vê-las sendo curadas pelo poder de Deus.
Percebi com toda essa experiência que Jesus, realmente, tinha coisas mais importantes para se preocupar do que com a minha coluna: Ele se preocupou com a minha alma e me deu de presente uma coluna de ossos fortes como os de um jumento.