segunda-feira, 15 de agosto de 2011

Três moedinhas


Eu devia ter mais ou menos uns cinco anos.

Minha mãe cuidava de nós quase que vinte e quatro horas por dia. Entretanto, quando era necessário, ela sempre pedia ajuda a uma das minhas tias e eu ficava muito contente quando a tia com quem eu ficaria era a Tia Maria.

Não era só pelo fato de ela ser a mais paciente, mas ela era a irmã mais velha da minha mãe e tinha três filhas já adolescentes que inventavam brincadeiras pra me distrair e contavam histórias de uma pequena enciclopédia infantil (que eu particularmente gostava muito) o que tornava minha estadia na casa muito mais agradável que quando eu ficava com as outras tias.

Esqueci-me de dizer que, nessa época, minha tia e meu tio Gilvan (assim como meus pais) ainda trabalhavam como feirantes. Ele vendia frutas e legumes e ela vendia salgadinhos ao lado da barraca dele. Como feirantes, eles lidavam com um volume razoável de dinheiro de pequeno valor (que aos olhos de uma criança parecia uma fortuna!) e era muito comum ter moedinhas por cima dos móveis da casa dela.

Em uma das inúmeras vezes em que fiquei sob os cuidados da Tia Maria, encontrei várias moedas sobre um dos móveis e achei que não teria mal nenhum se eu ficasse com algumas, afinal, eram tantas que ela nem daria falta. Assim eu fiz e, como eu disse, ninguém percebeu a falta das moedas.

Fui desmascarado quando voltávamos para casa e meu irmão pediu para minha mãe comprar alguma coisa e ela respondeu que estava sem dinheiro. Prontamente, eu disse:

- Eu tenho dinheiro!

Minha mãe, muito intrigada, perguntou onde eu havia encontrado dinheiro e eu respondi:

-Peguei na casa da Tia Maria! Ela tinha um montão!

Minha mãe me explicou que eu não poderia pegar nada sem pedir antes e disse que o que eu havia feito era errado e se chamava roubo. Ela ainda me fez guardar as moedas até a próxima ida até a casa da minha tia para devolvê-las acompanhadas de um pedido de desculpas.

Quando o dia chegou, parei na frente da Tia Maria com aquelas três moedinhas na minha mão fechada e disse, abrindo a mão e revelando meu erro:

- Aqui, tia, as moedinhas que eu roubei da senhora.

É claro que eu fiz isso chorando e me abracei com ela.

Tia Maria, pacientemente, disse que não tinha problema. Que aceitava minhas desculpas e que eu até poderia ficar com as moedinhas. Olhei para minha mãe e percebi seu olhar me autorizando a aceitar o presente.

Minha tia achou a disciplina da minha mãe um pouco exagerada, mas era o jeito dela de ensinar e resolver os problemas do nosso dia a dia.

Entretanto, hoje percebo que, mais que me ensinar a não roubar, minha mãe estava me ensinando um princípio da Palavra de Deus:

Se confessarmos os nossos pecados, ele é fiel e justo para nos perdoar os pecados e nos purificar de toda injustiça.” (1Jo 1: 9).

Talvez, sem se dar conta, minha mãe me ensinou que apenas quando reconhecemos nossos erros estamos nos candidatando ao perdão.

Muitas pessoas têm ficado presas aos erros do passado pelo simples fato de não admiti-los como erros. Certamente que o temor em seus corações é a possibilidade de não receberem o perdão das pessoas que magoaram, o receio é que a dor das consequências suplantem os benefícios de um coração em paz.

Ainda mais grave que não conseguir pedir o precioso perdão a outro ser humano é achar que Deus nos tratará como um tirano enfurecido incapaz de ser compassivo com alguém que cometeu uma falha. Esquecemos que Ele é um pai amoroso e completamente fiel ao que diz:

O que encobre as suas transgressões nunca prosperará; mas o que as confessa e deixa, alcançará misericórdia” (Pv 28:13)

Deus me fez ver através do amor da minha tia que Ele, o Pai, que me ama infinitamente mais que qualquer pessoa jamais poderá me amar, tem Seu coração inclinado a liberar seu perdão gratuitamente a todos os que se arrependem e têm o coração quebrantado.

Meus filhinhos, estas coisas vos escrevo, para que não pequeis; mas, se alguém pecar, temos um Advogado para com o Pai, Jesus Cristo, o justo.” (1Jo 2: 1)

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